Tantra Terra

Não fazemos ideia e nem sempre mensuramos a dimensão do quanto o corpo está diretamente ligado a constituição do corpo psíquico e por consequência também do emocional.

Geralmente o nascimento biológico é um evento considerado dramático e observável ao contrário do nascimento da esfera psíquica que é um desdobramento que ocorre sem um marco delimitado e não coincidem na mesma linha temporal a partir do momento em que inalamos nosso primeiro Chi, Ki, ou como chamamos no Tantra, nossa energia sexual/vital.

Essa energia sexual nos torna potentes e capacita o corpo do ganho de autonomia. Aqui temos a primeira ruptura onde nos desconectamos do cordão umbilical que nos liga a mãe, ganhando autonomia a partir dos nossos pulmões para respirar e ingerir alimento através do estomago. 

Quando adquirimos o primeiro senso de existência, alcançamos também uma consciência de separatividade da mãe, e que não se dá no exato momento dessa separação biológico. O mesmo acontece com a construção e desenvolvimento do psiquismo e da noção do eu. O ego corporal dá início ao ego da psicosfera.

Em termos, precisamos do senso de existência do eu, primeiro através do outro, logo depois do movimento contrário para a criação da identidade individual. O “Eu Sou” através do senso coletivo e do olhar do outro, mas também “Eu Sou” através dos meus próprios olhos.

O denominando “nascimento psíquico” então, cuja origem estaria no corpo, também advém dos próprios sentidos, construtores do psiquismo, filtros propulsores para conexão com o mundo externo e interno, o eu a partir do outro e a partir de como o sinto, e isso também abraça nosso repertório de memorias quanto a iniciação do explorar do universo externo.

As impressões táteis, gustativas, olfativas, auditivas e visuais têm a função de disparadores tanto da memória sensível quanto daquilo que necessito para apreender o mundo. Ao bloquear essas funções há um bloqueio nesse trajeto que vai da sensação à ideia, anestesiando-a ou exacerbando-a, ficamos inertes psiquicamente.

Um bebê normal com uma mãe responsiva, precisará adquirir gradativamente essa consciência de que existem dois e não um só. E gradativamente porque o bebê vai oscilar entre uma ilusão de continuidade física e uma quebra da continuidade corporal da própria mãe.

Porém na fase adulta, ainda carregamos esse bebê, essa criança com todas estas percepções e mundos entrelaçados, que de fato não se dissolvem no nosso cotidiano habitual. A ideia de que sou a partir da percepção e do olhar do outro é sempre um dialogo, a instituição social em termos de construção comportamental e cultural também inflige esse olhar.

Esse olhar muitas vezes permeia nossa vida e nossa atmosfera psiquica com tal peso de nos tornarmos vigilantes de todos nossos atos, desejos, impulsos e ações que deletamos o primeiro aprendizado de nossos corpos: a autonomia do ser.

O Tantra permeia esse retorno para o eu, todo sentido de auto responsabilidade, sentir, pensar, ser e agir voltado para si e em seguida a autonomia dessa psicosfera para o ambiente em que permeia com responsabilidade e inclusive percebendo o “Não-Eu”. Saber que nem tudo se trata e fala de você, do eu.

O outro também pode ter essa mesma autonomia psíquica e assim desenvolver seus agir, pensar e sentir para si com responsabilidade de si e do outro, atuando com maturidade no meio que permeia, seu espaço.  

O  Tantra sempre trabalha a criança, para que o adulto saiba ocupar e viver seus espaço de forma sistêmica, simbiótica e saudável a partir de si e fora de si.